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24.jun.2025

Logoterapia de Viktor Frankl: Encontrando Sentido Mesmo na Dor

Bom dia queridos amigos. Hoje escolhi um tema que gosto muito que é à Logoterapia de Viktor Frankl, que tem como objetivo o sentido da vida que é encontrar, em cada momento, uma resposta autêntica que alinhe nossos valores, ações e atitudes com aquilo que dá propósito à existência.

Viktor Frankl,
logoterapia e exercícios de valores:

Viktor Frankl, neurologista e psiquiatra austríaco, teve sua vida brutalmente transformada ao ser deportado para os campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Perdeu a esposa grávida, os pais e o irmão em diferentes campos, vivendo ele mesmo por mais de dois anos entre Auschwitz, Dachau e outros locais de sofrimento extremo. Diante do horror, Frankl observou algo que se tornaria a base de sua contribuição à psicologia: embora não pudesse controlar as circunstâncias ao seu redor, ele ainda era livre para escolher sua atitude diante do sofrimento. E mais: aqueles que conseguiam encontrar um sentido para continuar vivendo, mesmo em meio à dor, tinham maior probabilidade de resistir física e emocionalmente. Nascia ali a logoterapia, uma abordagem existencial que coloca a busca de sentido como a motivação central da existência humana.
Frankl percebeu que os prisioneiros que sobreviveram emocionalmente ao Holocausto, mesmo sem saber se veriam o sol nascer no dia seguinte, eram aqueles que ainda tinham um para quê viver. Alguns se apegavam à esperança de reencontrar um filho, outros queriam terminar um livro ou manter sua dignidade. O próprio Frankl sobreviveu mentalmente ao imaginar-se dando aulas sobre a psicologia dos campos de concentração, como se já estivesse depois da guerra. Essa capacidade de projetar-se para além da dor imediata se tornou um de seus ensinamentos mais profundos: podem nos tirar tudo, menos a liberdade de escolher a atitude com que enfrentamos o que nos acontece.
A partir dessa visão, Frankl desenvolveu métodos terapêuticos que ajudam o paciente a sair da autorreferência sintomática e abrir-se ao mundo, aos outros, ao trabalho, ao amor e à beleza dos caminhos através dos quais o sentido pode ser vivido. A logoterapia, portanto, não oferece o sentido pronto, mas ajuda o sujeito a descobrir o seu, através daquilo que já viveu, do que pode criar e de como pode se posicionar diante da existência. Para isso, a abordagem utiliza exercícios e perguntas que vão iluminando os valores que sustentam a vida da pessoa.
Um dos primeiros exercícios que podemos utilizar em terapia é o "Mapa dos Valores Vividos", uma ferramenta que convida o paciente a revisitar três categorias de experiências significativas, conforme a tipologia frankliana de valores: os valores de criação, os valores de vivência e os valores de atitude.
No campo dos valores de criação, o terapeuta pede ao paciente que recorde uma experiência em que realizou algo que lhe trouxe orgulho, contribuição ou propósito. Pode ter sido um projeto, uma ação de cuidado com o outro ou algo que construiu com as próprias mãos. Ao resgatar essa experiência, o paciente começa a reconectar-se com sua capacidade de agir no mundo e transformar realidades, mesmo que pequenas. Em seguida, explora-se o que essa ação revela sobre os valores que movem a pessoa: generosidade, criatividade, disciplina, justiça?
Depois, o foco passa aos valores de vivência: aqui o paciente é convidado a se lembrar de um momento de plenitude emocional, um instante de beleza, de encontro, de conexão com a arte, com a natureza ou com o amor. Essa evocação tem efeito quase restaurador. Muitas vezes, em estados depressivos ou ansiosos, o sujeito se distancia da possibilidade de se emocionar ou de se sentir tocado. Resgatar essas experiências devolve a dimensão do sensível, do estar com o outro, do sentir-se vivo em um instante.
Por fim, trabalha-se com os valores de atitude, talvez os mais nobres e desafiadores. São aqueles que emergem diante do sofrimento inevitável perdas, doenças, limitações. O paciente é convidado a relembrar um momento difícil em que, mesmo sem poder mudar os fatos, escolheu uma forma de enfrentá-los. Não se trata de positividade tóxica, mas de reconhecer a dignidade da resposta humana frente ao absurdo. O terapeuta pode perguntar: "O que você aprendeu com essa dor?", "Qual foi a sua escolha diante do que não podia controlar?", "Como isso transformou quem você é hoje?"
A partir dessas reflexões, a logoterapia propõe um segundo exercício: a definição de objetivos congruentes com os valores identificados. Diferente de metas arbitrárias ou idealizadas, o foco está em objetivos que estejam alinhados com aquilo que realmente importa para o paciente. A famosa "Roda da Vida", ferramenta comum no coaching e também usada em contextos clínicos, pode ser adaptada aqui. Em cada área da vida (família, saúde, trabalho, espiritualidade, lazer, etc.), o paciente avalia sua satisfação atual e, mais importante, o grau de importância daquela área. Isso permite identificar incongruências (áreas com alta importância e baixa ação) e estabelecer metas pequenas, viáveis, mas carregadas de sentido.
Por exemplo, alguém que valoriza profundamente a espiritualidade, mas se deu conta de que abandonou práticas importantes para si, pode definir como objetivo "voltar a meditar 10 minutos por dia". Pequeno gesto, grande congruência. O critério aqui não é produtividade, mas autenticidade.
Assim, por meio de exercícios como esses, a logoterapia cumpre sua missão maior: reacender no ser humano a centelha da liberdade interior e da responsabilidade existencial, levando-o a perceber que, mesmo diante da dor, da perda ou da falta, a vida ainda pode ter sentido e esse sentido pode ser encontrado, assumido e vivido.

Dra. Clystine Abram

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