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Terapia Focada na Compaixão no Tratamento da Ansiedade Generalizada
02.jun.2025

Terapia Focada na Compaixão no Tratamento da Ansiedade Generalizada

O tratamento do TAG que tem uma prevalência de 14,3% da população brasileira segundo estudos Costa é colaborador (2019). Numa pesquisa mais recente de 2023 de Covitel, 26,8% da população brasileira sofre de transtorno de ansiedade e entre os jovens de 18 até 24 anos o percentual sobre para 31,6%.
A Terapia Focada na Compaixão pode ser uma grande ferramenta no Tratamento da Ansiedade Generalizada.
O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é caracterizado por uma preocupação crônica e excessiva com diversas áreas da vida, acompanhada por sintomas como tensão muscular, inquietação, fadiga, dificuldades de concentração e sono. Os pensamentos ansiosos costumam ser catastróficos, antecipatórios e difíceis de controlar. Muitas vezes, há um forte senso de responsabilidade, medo de errar, necessidade de controle e autocrítica.
A Terapia Focada na Compaixão (CFT), desenvolvida por Paul Gilbert, oferece uma abordagem poderosa para tratar a ansiedade crônica, não apenas controlando os sintomas, mas ajudando o paciente a se relacionar de maneira diferente com sua própria mente ansiosa e ameaçadora.
Compreensão da ansiedade pela CFT:
A CFT parte do princípio de que temos três sistemas emocionais principais que regulam nosso funcionamento interno:
1. Sistema de ameaça: responsável por identificar perigos e mobilizar respostas defensivas (luta, fuga ou congelamento);
2. Sistema de busca de recompensas: associado à motivação, realização e prazer;
3. Sistema de afiliação e calma: associado à segurança, cuidado, vínculo e autorregulação.
No TAG, o sistema de ameaça está hiperativado e o de afiliação está subdesenvolvido. O paciente vive num estado constante de vigilância, preocupação e tentativas de se proteger de algo que "ainda vai dar errado".
Além disso, muitos pacientes com TAG apresentam vergonha, medo de fracassar e autocrítica, o que reforça ainda mais o sistema de ameaça. A CFT entende que não basta apenas mudar os pensamentos ansiosos, é preciso cultivar uma mente mais segura, calma e compassiva, capaz de oferecer suporte interno. Objetivos da CFT para ansiedade generalizada:
? Desenvolver consciência compassiva, que permite observar a mente ansiosa com mais gentileza e menos fusão;
? Reduzir autocrítica, perfeccionismo e medo da imperfeição;
? Ampliar a capacidade de autorregulação emocional por meio do sistema de afiliação;
? Treinar o paciente para responder com coragem, sabedoria e bondade diante de ameaças internas.
Técnicas principais usadas com pacientes com TAG:
1. Psicoeducação sobre os sistemas emocionais: entender que a mente ansiosa não é defeituosa, mas um cérebro tentando protegê-lo de perigos (muitas vezes, imaginários).
2. Respiração compassiva e ritmo calmante: usada para desativar o sistema de ameaça e ativar o sistema de calma. A prática envolve inspirar e expirar suavemente, com foco na sensação de cuidado.
3. Imagética compassiva: o paciente é convidado a imaginar uma figura compassiva (real ou simbólica) que o acolhe e o ajuda a lidar com a ansiedade com segurança.
4. Diálogo com o eu ansioso: o paciente aprende a dialogar com a parte ansiosa de si mesmo como se fosse uma criança assustada, acolhendo-a em vez de rejeitá-la.
5. Trabalho com a autocrítica e com o perfeccionismo: reconhecer como essas vozes críticas reforçam a ansiedade e desenvolver uma resposta interna mais compassiva.
Exemplo clínico da paciente Carla, 29 anos, solteira, pedagoga, mora com os pais.
Queixa principal: Carla sofre de ansiedade desde a adolescência. Preocupa-se excessivamente com o trabalho, a saúde da família (seus pais), seu desempenho laboral. Sente tensão muscular constante e frequentemente tem crises de insônia. Refere pensamentos como: "Se eu não fizer tudo certo, algo ruim vai acontecer", "Eu não posso relaxar", "As pessoas vão me julgar", "Não posso falhar", "Se eu falhar, então serei punida", "Algo de muito ruim vai acontecer", "Sou um fracasso, porque falhei".
Histórico emocional: Família muito crítica e rígida. A mãe dizia que "descansar é para preguiçosos". Carla aprendeu a se antecipar a tudo como forma de se sentir segura.
Intervenções com CFT:
? Sessão 1 a 3: Psicoeducação sobre os sistemas emocionais. Carla ficou surpresa ao descobrir que sua ansiedade era uma "tentativa do cérebro de protegê-la", isso reduziu a vergonha que sentia por "não conseguir controlar seus pensamentos".
? Sessão 4 a 6: Prática da respiração compassiva e construção de uma "figura compassiva": Carla imaginava uma avó carinhosa, que a acolhia com voz calma e dizia "você já fez o seu melhor hoje, pode descansar".
? Sessão 7 a 10: Trabalho com a autocrítica e o medo de errar. Carla foi convidada a escrever cartas compassivas para si mesma, especialmente em momentos em que sentia que "falhou". Chorou ao perceber o quanto vinha se tratando com dureza.
? Sessão 11 em diante: Carla começou a identificar os primeiros sinais de ansiedade e usar as práticas de compaixão para interromper os ciclos de preocupação antes que eles se intensificassem. Relatou melhora na qualidade do sono, menor necessidade de controle e mais gentileza consigo mesma.
Exercício prático: "Diálogo com a Parte Ansiosa"
Objetivo: ajudar o paciente a reconhecer que sua ansiedade é uma parte de si que está tentando protegê-lo, mas que pode aprender a confiar no sistema de compaixão.
Passos:
1. Peça ao paciente que feche os olhos, respire lentamente e imagine que a parte ansiosa está sentada diante dele, como uma versão menor de si mesmo.
2. Instrua-o a olhar para essa parte com ternura. Depois, diga:
"Quero que você pergunte a essa parte:
'O que você está tentando fazer por mim? Por que você está tão preocupada?'"

3. Depois de escutar a resposta, incentive o paciente a responder com compaixão:
"Obrigado por tentar me proteger. Mas agora, posso cuidar de mim de outra forma. Você não está sozinho. Vamos respirar juntos."
4. Encerrar a prática com respiração compassiva e uma frase de segurança, como:
"Neste momento, estou seguro. Eu posso oferecer calma à minha mente."
Conclusão:
A Terapia Focada na Compaixão é uma abordagem poderosa para o tratamento da ansiedade generalizada porque vai além da modificação de pensamentos. Ela fortalece o sistema emocional compassivo, reconstrói a relação do paciente consigo mesmo e ensina que segurança pode ser cultivada internamente, não apenas controlando o mundo externo.
Ao treinar a compaixão, o paciente aprende a aceitar a presença da ansiedade sem ser dominado por ela, encontrando dentro de si um espaço de calma, coragem e cuidado, qualidades que reduzem a vigilância constante e transformam a forma como se vive.

Dra. Clystine Abram

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